As categorias egoísmo e altruísmo só existem em um âmbito reacionário. São utilizados sempre para cobrir uma incompreensão; quero dizer: não existem. O que geralmente se aponta na figura do egoísmo, a ação egoísta, é algo inextinguível e igualmente indecidível: a de que todo movimento parte do mesmo, e que por mais que seja sempre um projetar, e que sendo um pro-jetar supõe-se um outro, o mesmo não pode ser suprimido, pois já toma parte do movimento, podendo ser considerado o próprio movente do movimento, ainda que a própria identificação do movente enquanto movente seja um problema de larga escala, um problema filosófico. Pois seja, o mesmo não é o ego (o eu), portanto não poderia ser egoísmo. Sempre me pergunto: quando foi que o mesmo se tornou eu, e toda uma concepção filosófica foi ignorantemente antropologizada, esquecendo-se também que o homem em questão é histórico, local, transitório? Mas, a vigência desta possibilidade não é vista como possibildade, e o agente deste resultado acredita estar em um espaço privilegiado. A partir disto quis interpretar todas as coisas sob a ótica que é somente sua, i. é, ele reduz todas as coisas ao seu campo de visão. Com isso, a maneira de lidar com questões clássicas da filosofia é remetido a um contexto muito menos amplo, o mesmo se torna eu, a ação se torna efetivação: acredita-se alcançar a verdade, mas - que ironia -, a verdade se perdeu. Egoísmo e altruísmo são a operação desta perda. Toda a ação é subestimada, toda a graça e o entusiasmo da vontade é personalizado, torna-se causal, determinável (ou pretende-se ser), e estas que são a atitude egoísta vs altruísta são finalmente separadas, como quem quer separar o bem do mal. Ora, o movimento que quer, quer a si mesmo, não importa se seja deixando o outro ser outro, se indo de encontro a ele; uma coisa é certa: outro não supõe, tal qual o mesmo, um âmbito antropológico apenas. Outro é o inindentificável, que sejam as forças do acaso, que sejam o que não se está pensando agora, são tudo aquilo que escapa, em suma: tudo; tudo que está para além da vontade. Supondo-se evidentemente que nem a própria vontade seja condenável ao âmbito antropológico Por um problema lógico deveria ter-se dispensado as categorias egoísmo/altruísmo, porém trata-se de dispensá-las por uma razão muito maior: estas categorias não existem.
Quem é o altruísta? É, sob a lógica dessa categorização, o mais egoísta. Porém, estas categorias só existem para que isso não seja visto; para negar toda vontade, para domesticá-la, normatizá-la.
Quem é o altruísta? É, sob a lógica dessa categorização, o mais egoísta. Porém, estas categorias só existem para que isso não seja visto; para negar toda vontade, para domesticá-la, normatizá-la.